By the Way, havia um inglês no meio do caminho

27/05/2009

Vestir a camisa (e esticar para caber?)

Tenho o privilégio nesses meus onze anos de profissão de poder dizer que nunca trabalhei em um lugar em que não acreditasse. Nunca trabalhei em nenhum curso e/ou escola achando que a metodologia não funcionava, que eu não me adaptava ou que os alunos não se adaptariam ou achando que o discurso era uma coisa e a prática, outra. No entanto, já deixei de acreditar em determinadas coisas ao longo do caminho ou, ao menos, deixei de querer trabalhar de determinadas maneiras e, sempre que isso acontecia, buscava uma nova oportunidade que tivesse mais a ver comigo.

Nesse dilema de vestir a camisa da instituição com folga ou esticar pra que ela coubesse (gostei da metáfora) nunca me permiti estar em um lugar em que não acreditasse. Porém, já tive colegas que assim o faziam em nome do vil metal e será que eu posso julgá-los? Creio que não! Apesar de nunca ter passado por isso, ainda posso ter de passar e acredito, do fundo de meu coração, que sempre há algo que possamos fazer em sala, dentro de nossas crenças, ainda que o sistema jogue contra.

O que acham?

23/05/2009

Eu não sou equilibrista pra ficar na corda bamba…

Mas, esperem aí…

Se o último post está minimamente correto e se não me falha a lógica básica, o ideal então seria estarmos sempre atentos ao que acontece em sala de aula? Vermos as relações como dinâmicas entre indivíduos, não é? Não exigirmos da prática pedagógica uma única verdade e sim uma praxis que vai se construindo na medida em que vamos atuando. Um equilíbrio em dinâmica para o qual não há respostas prontas…

Afe…que trabalhão! Só de pensar nisso me dava uma canseira! E a canseira não era o pior, porque eu nunca fui de me assustar com trabalho!

O pior, naquele início de carreira e início de vida, do alto de meus dezenove anos, era a noção que eu tinha de que equilíbrio era coisa chata! Nada mais chato do que ser equilibrado! E eu lá vim ao mundo pra ficar na corda bamba? Onde é que está minha vida hollywoodiana em que as aulas são mega-shows ou tragédias em três atos? Equilíbrio uma ova!

Porém, se eu queria ensinar – e eu queria – teria que buscar o chato do equilíbrio!

Hummmmmmmmmmm

Dicionário das Formas de Agir Não Pedagógicas

Eis a lista que me ocorria naquela época de formas de agir e atitudes que eu tinha que não me ajudavam a ensinar:
– não ajudava planejar a aula nos mínimos detalhes como se a aula fosse uma coreografia a ser respeitada que eu apresentava a meus alunos bailarinos e eles tinham de aprender a repetir-lhe os passos (flexibilidade zero).
– não ajudava encarnar a flexibilidade em pessoa e não planejar absolutamente nada, amparada por teorias como o “fluxo das coisas”, o “zen” e a “teoria universal da atração”.
– não ajudava não ter visão do todo e começar a encrencar com determinado aluno porque ele não aprende uma determinada expressão, ignorando seus avanços em outras áreas.
– não ajudava só acreditar que cada um tem seu ritmo e que tudo acontece quando deve acontecer e não focar em temas ou tópicos específicos para dar direção ao avanço.
– não ajudava pregar coisas nas quais eu não acreditava.
– não ajudava pregar coisas nas quais eu acreditava, ignorando que os alunos podiam ter suas próprias crenças.

Estamos brincando de pêndulo aqui? Parece, né? Por que raios tem que ser sempre oito ou oitenta? Seria uma incapacidade cerebral de transitar por zonas multicor do aprendizado que me fazia ficar sempre transitando entre o preto e o branco? E sobrevinha uma enorme irritação que fazia com que eu questionasse: Afinal, qual é a verdade? E eu batia pé e fazia beicinho, culpava o mundo, os outros e a mim mesma (de acordo com minhas taxas hormonais), mas não conseguia visualizar saída que não fosse o equilíbrio.

Não adianta fazer beicinho…

…e muito menos bater pezinho!

O engraçado é que durante muitos anos fazer beicinho e bater pezinho toda vez que eu queria alcançar algum resultado foram táticas infalíveis. Quando eu era criança, funcionavam sempre! Mais tarde, desenvolvi novas tecnologias de beiço que incluíam elaborados argumentos acerca de como eu me sentia injustiçada (cuja profundidade eu conseguia provar por A mais B) e expressões carrancudas em que apontava aos demais membros de meu círculo de amigos como culpados por minha falhas.

O impressionante é que tais táticas desenvolvidas aos cinco anos de idade com toda pompa não serviam em sala: eu podia contorcer meu digníssimo beiço o quanto quisesse, corroborar todas as teorias em relação a como os alunos não tinham mais respeito pelos professores, como eles eram diferentes da aluna que eu fui, como, na verdade, esta juventude era a encarnação do mal, entre outras e, ainda sim, sabia que, no fundo, minha missão era ensinar e havia certas formas em meu agir que simplesmente não ajudavam ninguém a aprender.

Voltaremos a elas…

Droga! Droga! Droga! (acompanha muxoxo infantil!)

16/05/2009

A mentira nem tem pernas pra começar a história…

Filed under: aprender,experiências,língua inglesa — sabinemendesmoura @ 03:52
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Se a mentira tivesse pernas curtas, tudo bem. Porque a gente ganharia tempo entre a mentira e a reação por mais que fosse dolorosa…

Fato é que a mentira não tem pernas. A mentira não cola internamente. E quando falo de mentira, falo de tudo aquilo que a gente não acredita em um determinado momento que seja verdade.

Exemplo: Naquela época, eu acreditava que o inglês era importante para a faculdade. Hoje, eu preferiria que quem entrasse para a faculdade sem saber inglês organizasse um projeto em que os materiais obrigatórios fossem traduzidos! (meu lado ativista, né?) Porém, naquela época, a idéia ainda não havia ocorrido a minha pessoa. Portanto, eu dizia em sala que o inglês era importante para a faculdade, dizia isso com verdade interna, e colava. Ficava com uma boa sensação. Imagino que nem todos acreditassem, mas não havia discussão, ao menos, quanto à verdade de minhas intenções ao dizer (os alunos ao menos consideravam essa hipótese com carinho e respeitavam a minha opinião).

Porém, eu NUNCA acreditei que para que o ambiente em sala fosse produtivo todos deveriam ficar sentados o tempo todo, quietos, me ouvindo e repetindo como máquinas. Conclusão: quando eu, movida por algum medo ligado a minha imagem, queria dar uma palestra sobre a importância deles fingirem de mortos, adivinha o que acontecia?

Pois é, não colava!

A mentira não tem pernas…

Ei, psiu, eu sou a sua consciência…Não era para ser um emprego temporário?

Pois é, pois é.

O chato de quando você começa a curtir uma coisa, especialmente se essa coisa for uma construção com outras pessoas, é que os seus sonhos megalomaníacos de poder e prestígio começam a ficar meio que em segundo plano. Ou terceiro, quarto, quinto plano…

Eu não ousava admitir, mas estava curtindo essa de ser professora!

Meu lado esquizofrênico – aquele que ouve vozes que me julgam – dizia: “Quem diria? Vai acabar professora, né? Você que dizia que ia fazer filmes, ser famosa, com que cara vai olhar para seus amigos de Cinema? Eles vão seguir carreiras brilhantes, você vai ver! Logo, logo vão estar nos jornais e você morrendo de inveja, dando aulinha! É, cada um curte como pode e você só merece isso aqui mesmo!”

Eu sei, minha esquizofrenia é de super mau gosto…

Mas, minha gente, era gostoso! E era útil! Lembram-se de que eu queria ser útil? Pois é!

Lado esquizofrênico – Faixa 2 – “Útil, né? Útil pra ensinar todo mundo a ser colonizado, falar a língua dos poderosos, onde é que vai parar todo o seu idealismo agora, hein? Quem diria? Você é mesmo uma traíra!”

Tá, tudo bem, mas eu estou educando, isso é uma sala de aula – não importa se é curso, escola ou o que seja – eu estou educando! Eles estão aprendendo muito mais do que inglês aqui…

Enfim…

Milagre na filial 164

Filed under: aprender,experiências,língua inglesa — sabinemendesmoura @ 03:37
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Eis que, aos trancos e barrancos emocionais, chegamos às provas de meio de período e um milagre acontece…

… eles fazem a prova! E mais…

… eles sabem fazer a maior parte da prova!

Vai ser difícil tentar explicar a sensação de alívio intensa e duradoura ao corrigir as provas dos meninos e meninas e descobrir que delas saem notas porque, sim, eles aprenderam alguma coisa!

Meus pensamentos iam de “Como isso foi possível em meio a tanta insegurança?” a “Obrigada, obrigada, obrigada, senhor!”

É quando começa a viciar essa coisa de dar aula! Não, não quero dizer na prova e no resultado concreto! Quero dizer que começa a viciar quando você percebe que, ainda que tudo jogue contra, há mais coisas entre você e os alunos do que suspeitava sua vã filosofia de botequim. Há comunicação, ainda que você se sinta perdido quase que o tempo inteiro! Ainda que seja a base de donuts!

Pelo menos, foi assim que foi acontecendo comigo.

Depois eu perceberia que, com o tempo, fica mais fácil.
Mas isso eu perceberia bem bem bem depois.

Naquele momento era o êxtase! Acompanhado da vontade louca de entender melhor esse processo de ensino aprendizado onde a gente nem precisa ser perfeito, desde que nunca desista de aprofundar e tentar…

Síndrome de BTE – Baixa Tolerância ao Erro

Até então eu conseguia ser a menina prodígio, em termos de imagem externa, ainda que por dentro me sentisse super insegura. Eis que começo a trabalhar em diferentes filiais (6 filiais diferentes, em diferentes pontos da cidade) do curso novo, tendo que dar conta de relatórios, ponto, avaliações, correções e etc.

Eu já não era mais tão eficiente e não dava conta. Havia padrões e eu não consegui segui-los. Vivia numa batalha mental comigo mesmo entre o aceitar que isso era normal porque eu estava começando e maltratar-me enchendo a cara de doces porque não estava conseguindo.

Uma cena da qual eu nunca vou me esquecer foi o dia em que uma de minhas coordenadoras pediu para ver uma série de exercícios que eu havia corrigido antes que eu os entregasse aos alunos. Ela foi apontando um a um os erros que eu deixei passar e me informando sobre a necessidade de corrigir sem riscar o que o aluno fez (circulando e colocando a resposta correta ao lado) e eu passei uma hora pelo menos com um liquid paper e uma profunda sensação de culpa (que foi transformada em donuts, posteriormente).

Baixíssima tolerância a meus próprios erros! Duas atitudes básicas: culpar os demais que, realmente, não haviam me dito como fazer antes de que saísse fazendo e me culpar por não ter pesquisado antes.

Por que é que eu não me permitia errar? Errar, pedir desculpas, seguir – sem que isso me produzisse uma sensação tão ruim?

E como vocês já devem ter ouvido que a culpa não leva a lugar algum…

Vozes do além ou “I see dead people”

Fui vítima, durante este primeiro ano dando aula nesse curso, de várias experiências metafísicas que envolviam o ouvir vozes, vozes fantasmagóricas que me julgavam o tempo inteiro… Fantasmas carregando correntes, suspiros fúnebres, que me enviavam algumas mensagens soturnas enquanto eu desenvolvia minha aula (sorrindo):

” Eles estão conversando. Você perdeu o controle de classe. Você não tem autoridade!”

” Eles estão se movendo demais. Não estão interessados. Você perdeu eles!”

” Ele repetiu errado. Há semanas ele repete errado. Você não está conseguindo ensina-lo”

” Lembra do professor X? Se fosse ele dando aula aqui, nada disso estaria acontecendo, sabe? O professor X sim é que é professor de verdade!”

“Você está exagerada! Está explicando demais!”

“Você não está nem aí. Tá correndo e explicando de menos!”

“Você explicou o vocabulário novo na ordem errada. Mandou repetir duas vezes só ao invés de três. Depois, quando eles não passarem no teste, a culpa vai ser sua!”

E por aí vai…

Formas sutis de violência: quando encurralado…

Filed under: aprender,experiências,língua inglesa — sabinemendesmoura @ 03:10
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…encurrale os demais!

Eu queria que meus alunos gostassem de mim e por isso tinha medo de dizer algumas coisas que acreditava que eles precisavam ouvir. Exemplo concreto: tive uma aluna que se apaixonou por um menino da sala e, às vezes, se empolgava muito em sua presença, ficava descontrolada do alto de sua pré-adolescência e acabava atrapalhando a aula.

Eu preferia justificar mentalmente sua atitude – cujo motivo já conhecia – dizendo que era fase, que passava, que era assim mesmo, não era nada grave, não era culpa minha, etc etc etc Ou seja, daria meu salário (bem, talvez não todo, mas boa parte) para tirar meu time de campo e deixar rolar.

Porém, sabia que certos limites se faziam necessários!

Então, não que eu soubesse na época, eu acabava sendo sutilmente violenta. “Sacaneava” para usar uma expressão da minha época. Nada pesado, nem expondo sua afeição. Coisas como: “Tá animadinha hoje, hein?”, “Por favor, agora precisamos que ALGUÉM pare de falar!”. Queria que vocês fossem mosquitinhos naquela época para verem como eu falava porque as frases podem parecer até engraçadinhas, mas o tom era sarcástico.

E por quê? Porque eu supostamente estava me defendendo de perder a afeição deles. Porque a única maneira de fazer isso era me colocar de alguma forma “mais esperta e superior”. Eu não sabia que era isso que eu estava fazendo, naquela época. Só sentia um gostinho amargo e uma sensação interna de que não era por aí que a banda deveria tocar.

E o pior é que nem sempre essas táticas eram efetivas: protegiam meu ego, sim, faziam com que os alunos se calassem sim, mas não ensinavam a eles sobre os limites e o porquê de sua necessidade.

Entendem?

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